Ruanda
Por Fábio Porchat
Ruanda, em si, não é exatamente um lugar com milhões de coisas incríveis, apesar de ter uma das experiências mais espetaculares que já vivi, que é ver, de perto, os gorilas-das-montanhas. Bom, essa primeira parte ficou meio estranha. O que quero dizer é que é um país pequeno, ainda mais para padrões das nações africanas, e que seu encanto está nas suas belezas naturais. Pronto… acho que assim ficou melhor.
Eu estive em Ruanda por três noites, indo embora no quarto dia. Kigali, a capital, conhecida como a “cidade das mil colinas”, é muito lindinha. Ela é toda bonitinha, organizadinha, é uma graça de se conhecer! É muito gostoso de se estar ali. E o que impressiona é quando se percebe que, há quase 25 anos, ela foi palco de um dos maiores massacres da história no Genocídio de Ruanda. O bacana, inclusive, é constatar que as pessoas que antes se odiavam e se matavam agora moram e trabalham juntas na construção de um novo país.
De qualquer forma, você pode se aprofundar mais nesse episódio sombrio da história seja visitando o Hotel de Mille Colline, o hotel palco do filme Hotel Rwanda (ótimo, por sinal), ou o Museu Memorial do Genocídio. Confesso que o hotel não é nada demais. Digo isso no sentido que ele não é estrutura imponente ou tem atrações, inclusive segue funcionando como hotel até hoje em dia. Mas se você assistiu ao filme, vale conhecer o local de toda a ação.
Já o Museu Memorial do Genocídio é impressionante, mas requer estômago. Os ruandeses fazem questão de não esquecer dos acontecimentos trágicos do passado, então é um museu bem forte e gráfico. Você não só fica sabendo das formas brutais que o massacre ocorreu, como vê fotos e descrições. Inclusive de crianças. Apesar de ter saído bem abalado e mexido, acho uma experiência fundamental de se conhecer.
Caso você queira explorar a cidade, acho que um dia já basta. Mais do que isso já não sei se há tanta coisa assim para se fazer.
ONDE ME HOSPEDEI: Kigali Serena Hotel
NA MONTANHA DOS GORILAS
Apesar de achar Kigali uma graça, foi o safári dos gorilas-das montanhas que me deixou maravilhado! Poucas coisas na vida são tão mágicas quanto ver essas criaturas na natureza, in loco. O cheiro da floresta, dos gorilas em si… tudo é inacreditável! É daquelas coisas que ficam com a gente para sempre.
Por serem animais ameaçados de extinção, o acesso aos gorilas é muito bem controlado para preservar o seu ecossistema. Existem cerca de 7 famílias de gorilas, acostumados com a presença humana, e que podem ser visitados em grupos de no máximo 8 pessoas. Por isso, a concorrência é grande e é essencial já ir com tudo agendado e marcado. As chances de perder se chegar sem reservas são grandes, para não dizer garantidas. E você pode marcar quantas vezes conseguir, eu mesmo resolvi que gostaria de ir dois dias para ter certeza que veria pelo menos um gorila que fosse.
Mas pra isso você tem que ir ao Parque Nacional do Vulcões (Parc National des Volcans), no coração das montanhas do país, conhecida como a cadeia de montanhas do Virunga. A cidadezinha de Volconoes, ao pé das montanhas, fica a cerca de 2h30m de carro de Kigali. O traslado pode ser feito por qualquer um dos hotéis em que você esteja hospedado ou em Kigali. No meu caso, já fui com tudo marcado do Brasil.
Há muitos hoteizinhos simpáticos pelo parque. A maioria na forma de chalés agradáveis que você encontra espalhados pelo local. Apesar do lugar ser muito bonito e charmoso, o principal a se fazer é ir ver os gorilas. No primeiro dia, você até pode querer explorar a Iby’s iwacu Cultural Village, uma vilazinha bonitinha nas proximidades. Só que conforme você for fazendo os passeios dos gorilas, sempre de manhã, e com muita trilha na floresta úmida e na altitude, você com certeza vai querer descansar. Vale dizer que os chalés são muito românticos. Fica a dica.
Vamos ao que interessa – a trilha dos gorilas em si. O mais importante pra reforçar é: vá preparado. E o que eu quero dizer com isso? Disposição física – é uma subida em um terreno difícil. Roupas leves, pois é uma selva úmida, com grandes chances de chuva, sapato de caminhada tipo aqueles Timberland para os caminhos enlameados e uma boa calça tactel impermeável. Não confunda roupas leves com pouca roupa; como os gorilas não ficam parados e os guias os rastreiam, as caminhadas podem durar algumas horas. Um par de luvas também é recomendável para proteger as mãos dos galhos.
Uma coisa que sempre me perguntam é se dá medo ou é perigoso. O que eu digo é que você se sente seguro a todo momento. Lógico que ver um gorila de pertinho te dá uma impactada, mas bem longe de ser um meeedo. E não se preocupe pois as chances deles te atacarem são minúsculas. Não só eles são herbívoros, como os guias andam com rifles armados com tranquilizantes.
Enfim, logo ao amanhecer, os grupos reservados para o dia vão até o centro de visitantes do parque na base do vulcão Sabinyo. Lá, os grupos são sorteados aleatoriamente entre os guias que os levarão atrás de um grupo de gorilas específico. Daí, o grupo parte em caminhada para encontrar os gorilas. E aí, meu amigo, tudo vai depender da sua sorte (por isso marcar mais de um dia é uma boa para aumentar suas chances de vê-los). Eu conheci uma moça que disse ter caminhado por mais de 6h com um grupo sem ter conseguido ver um gorila sequer! Já eu tive a sorte de vê-los nos dois dias. Me odeie o quanto quiser!
Mas é interessante também ver a diferença dos grupos dos gorilas em si, vi um que supostamente era o mais numeroso e o outro com o maior macho de toda Ruanda. E quando os encontra são muitos gorilas. Cada grupo pode ter até de 10 a 20 membros. Os dois foram incríveis de qualquer forma. Uma vez achados os gorilas, pode-se observá-los por 1h. Passado o tempo você volta para o centro do parque e o passeio terminou.
Não se preocupe, pois você pode tirar fotos à vontade dos gorilas. As únicas restrições são evitar movimentos bruscos, gritos e tocá-los. Se bem que um gorila, ao passar, acabou esbarrando em mim. Por um momento o encantamento virou um cagaço, mas consegui me recompor.
Acho legal dizer que dá pra fazer o passeio durante a manhã e retornar para Kigali à tarde, podendo até ir para outro destino, como fiz, embarcando para África do Sul.
ONDE ME HOSPEDEI: Sabyinyo Silverback Lodge
DICAS
- Idioma oficial: kinyarwanda. Mas francês e inglês são amplamente falados.
- Clima temperado e fresco devido à altitude.
- Moeda: franco ruandês.
- Site do safári dos gorilas: http://www.rwandagorilla.com/
- Crianças não são permitidas na trilha. É pela própria segurança delas.
- Leve uns trocados para a trilha para pagar os carregadores. São eles que irão levar sua mochila com água, comida e muda de roupa. Você pode até ficar reticente em contratar um, mas eles justamente estão contando com esse dinheiro para a renda deles. Fora que eles são habituados com o terreno e você não. Já é difícil subir sem mochila, quem dirá com!
- Não é bom ir de perfume. O aroma espanta os gorilas.
- Não é bom levar muita comida na mochila pelo motivo contrário ao acima.
- Em geral, os hotéis do parque oferecem um serviço de lavar roupa e sapatos. Fique atento e se informe se o seu oferece.
- A comida é muito gostosa e caseira!