Cuba
Por Fábio Porchat
Cuba é um destino que para nós, brasileiros, costuma despertar paixões das mais variadas. Mas isso tem a ver com cultura e política e nada com turismo e viagem. A verdade, na experiência que tive, é que Cuba é um pais que se assemelha bastante ao Brasil: seja na suas paisagens, que parecem o sul da Bahia, o mar e praias que lembram o nordeste, povo alegre, feliz e simpático, mas, sobretudo, um gigante potencial turístico que não é bem explorado. De qualquer forma, recomendo uma viagem para lá pois a experiência cultural (e, porque não, sociológica) é bem interessante e nos faz refletir e questionar o modelo de mundo em que vivemos.
Há três rotas mais comuns que podem te levar a Cuba. Você pode ir via Bogotá, Miami ou Panamá. Acabei indo pelo Panamá; evitei Miami para não ter que fazer duas imigrações distintas. Aliás, a imigração no aeroporto José Martí, em Havana, requer paciência. É tudo bem cheio e confuso, com todos os vôos que chegam se misturando. É o cartão de visitas para o ritmo das coisas em Cuba, que posso dizer que tem uma certa malemolência caribenha. Se for esperar agilidade e prontidão por lá, você vai sair (bastante) frustrado. É relaxar, respirar fundo e se virar.
Como o turismo é uma indústria relativamente nova para eles, as coisas costumam acontecer aos trancos e barrancos ou até mesmo não acontecer. Isso é uma realidade para a qual você deve estar preparado. Exemplo: dois amigos meus chegaram na ilha poucos dias depois de mim. Eles tinham um táxi, já agendado do Brasil, para buscá-los no aeroporto. Ao chegarem, o táxi não estava e o número disponível para chamar não conectava. Outra história: ao fazermos o transfer de Cayo Santa Maria para Trinidad, a empresa mandou um táxi para buscar meu grupo de 4 pessoas. Obviamente não cabiam todas as malas. Enquanto ligávamos para agência para resolver o problema, reparamos que o táxi que havia chegado (e onde estava a mala dos meus amigos) havia sumido. O motorista não falou nada e um pânico se espalhou pelos funcionários do hotel. Passados trinta minutos, o senhor do táxi voltou, dizendo que tinha apenas saído para almoçar. Só não avisou ninguém.
Cuba pode não ser tão cara quanto Londres, Nova Iorque ou Paris, mas nem por isso é um destino barato. Ao se abrir para o turismo, o governo criou um câmbio paralelo para os turistas e há duas moedas nacionais em circulação. O peso cubano, usado apenas pelos cubanos ou estrangeiros residentes na ilha, e o cubano convertible (CUC), carinhosamente chamado de “cu” pelos locais. Sim, essa piadinha de “quantos cus custa” e “tem que gastar os cus até o final da viagem” cansa no 3o dia. Mas, como vinha falando, 1 CUC equivale a €1.08 (podendo variar). Portanto, os produtos e coisas que consumir por lá não saem tão baratos assim. E dá pra gastar feliz da vida. Muito artesanato e arte de ótima qualidade. Comprei quadros e gravuras.
A cultura e o povo cubano são, de longe, um dos pontos mais positivos da ilha. São as coisas que mais me fizeram perceber a semelhança entre o brasileiro e o cubano. De fato, os cubanos são alegres, extrovertidos, simpáticos e sempre dispostos a bater um papo com você. Algumas vezes algum cubano me parava do nada e perguntava: “Está gostando de Cuba?” Eu respondia: “Sim”. E ele: “Que bom!” E ia embora. Ele genuinamente só queria saber o que eu estava achando dali. Eles adoram puxar papo e nunca senti nenhum vestígio de insegurança por lá. Ah! E eles adoram novela brasileira. Se prepare para ouvir muito sobre as telenovelas quando revelar ser brasileiro. Já quanto à cultura, toda cidade tem uma Casa de la Trova (Casa do Trovador) para apresentação de artistas e ritmos cubanos e o som da rumba e salsa ecoa pelas ruas.
A comida é um ponto negativo da ilha. Mesmo nos lugares para estrangeiros, e conheci lugares bem moderninhos em Havana, bares que poderiam estar em qualquer outra cidade do mundo, a comida deixa a desejar. Uma refeição excelente lá, em geral, seria considerada satisfatória por aqui. Mas há pratos típicos interessantes para se provar como o ropa vieja (carne temperada e desfiada com um molho de vinho) e lagostas. Em geral todos vem acompanhados de ‘aroz con gris’, o arroz com feijão deles. A diferença é que o feijão já é misturado ao arroz na panela. Entretanto, se a comida não é o forte, as bebidas… Prepare-se para tomar rum como água e sugiro experimentar os drinques feitos por eles como canchánchara, daiquiri e o célebre mojito. Recomendo experimentá-los todos, e mais de uma vez, para ter certeza de que gostou :p
Estive em Cuba por duas semanas praticamente e foquei na parte central da ilha, tendo conhecido: Cayo Santa Maria, Cienfuegos, Havana, Santa Clara, Trinidad e Varadero. Vou falar um pouquinho sobre cada um. De qualquer forma, Cuba é um lugar bem singular, que te oferece um carrossel de experiências. Tanto boas quanto ruins. Se você levar em conta que eventuais perrengues fazem parte da viagem, vai se divertir. No entanto, não deixa de ser um lugar bem curioso e interessante e com uma leve sensação de que temos um irmão brasileiro perdido no Caribe. Resta você explorar para julgar, por si mesmo, se gosta desse irmão ou se prefere deixá-lo lá onde está mesmo.
DICAS:
- Leve euros para lá. Eles cobram uma taxa de 18% em cima do dólar. E pode trocar no próprio hotel. O câmbio é um só no país todo.
- O idioma oficial é o castelhano (espanhol).
- O clima lá, em geral, é o típico do Caribe: temperatura amena alta que se mantém entre 24-33oC. A umidade é bastante alta, podendo variar entre 80-90%. De junho a novembro é quando ocorrem os principais períodos de chuvas e também a temporada de furacões.
- O passaporte precisa estar válido no momento de entrada e ter, pelo menos, duas páginas em branco para serem carimbadas na entrada. (Prepare-se também para preencher diversos formulários basicamente iguais que não vão ser pedidos por ninguém).
- É exigido o comprovante internacional de febre amarela. E isso é algo que eles realmente checam, ainda mais turistas brasileiros.
- Boa parte do comércio fecha depois da 13h aos domingos. Apenas restaurantes ficam abertos e, mesmo assim, nem todos.
- Internet: o acesso em Cuba é fortemente controlado pelo Estado e a melhor forma de fuçar online é dentro dos hotéis. Em geral você compra um cartão do governo por 1 CUC (podendo variar) que te dá acesso a 1h de internet. Você pode usar quantos cartões quiser em um dia e até pausar um para voltar e usá-lo mais tarde. Só não espere muita velocidade nas conexões. Mas você conseguirá, tranquilamente, fazer um Facetime ou postar suas fotos e vídeos. Mas, como tudo por lá, tenha paciência, só há wi-fi em alguns pontos da cidade.
- Leve seus itens de higiene pessoal. Há apenas as opções nacionais na ilha, que são de natureza duvidosa. Leve de sobra pois é comum que os funcionários nos hotéis te peçam alguns dos produtos. Para as mulheres, lencinhos são boa pedida.
- Casas particulares. Uma opção de hospedagem são as chamadas casas particolares, que, como o nome indica, são hospedagens na casa das pessoas. Não me hospedei em nenhuma, mas deixo a cargo de você e da experiência que quer ter em sua viagem
- Restaurante Santy Pescador – y Río. Jaimanitas, La Habana, 3c23 e/ 3raC 240 A, La Habana, Cuba (não pudemos ir pois o carro do nosso amigo quebrou no dia mas vamos listar de qualquer forma.) Um restaurante que mantém a tradição do fundador, Santy, que saía para pescar no rio de manhã cedo e preparava os peixes do dia para os clientes. A culinária é japonesa e é considerado um dos melhores de Cuba.
- La Fabrica de Artes Cubanas – Uma espécie de balada que tem exposição de arte e fotos, show ao vivo, restaurante, lojinhas, pista de dança e muita bebida. É imperdível, mesmo que você não goste de balada (assim como eu). Vá!
OUTRAS ATRAÇÕES:
- PLAYAS DEL LESTE – uma ótima alternativa se você vai apenas visitar Havana mas gostaria de aproveitar um pouco de praia. Fica perto do centro da cidade e pode-se chegar facilmente de taxi.
- FINCA LA VIGIA – é a antiga fazenda/sítio onde o escritor Ernest Hemingway morou, entre idas e vindas, por cerca de 20 anos. Fica cerca de 16km do centro da cidade e a casa está preservada da forma que foi abandonada pelo escritor, que se suicidou pouco após deixar o país.